4. Prática da leitura e religião: reforma e contrarreforma | História da Leitura

4. Prática da leitura e religião: reforma e contrarreforma    

John Wycliffe (1320s – 1384) na Inglaterra e Jan Hus (1370 – 1415), nos Países Baixos (este executado na fogueira pela Inquisição) haviam lançado sementes que não morreram. Em meio a vários fatores, muitos dos quais políticos, fiscais e nacionalistas, uma das ideias simples que ambos haviam estabelecido é que a Bíblia devia estar ao alcance de todas as pessoas, e elas deveriam poder lê-la e entendê-la por si mesmos. William Tyndale (1484 – 1536), sacerdote católico, erudito em grego e latim, sumarizou o espírito desses estudiosos ao, num confronto com um clérigo de alta posição, afirmar que “se Deus poupar minha vida, daqui a poucos anos farei com que o menino que conduz o arado conheça mais as Escrituras do que vós”. [1]

A posição da Igreja era absolutamente oposta. Em 1546, no Concílio de Trento, a Igreja reiterou que se devia usar exclusivamente a Vulgata Latina, de Jerônimo. De fato, desde 1231, com a Bula Excommunicamus, publicada pelo Papa Gregório IX, sistematizava leis e jurisprudências acerca dos crimes relativos à feitiçaria, usura e heresias, instituindo a Inquisição. Entretanto, como o rei podia nomear bispos, e esse era um interesse bilateral, a Inquisição serviu a interesses políticos também. Não há consenso entre os pesquisadores quanto à extensão do dano ou terror causado pela Inquisição, mas a opressão sem dúvida também contribuiu para a insatisfação de muitos, especialmente dos que almejavam uma mudança. Esse desejo de mudança, ou o conjunto de ações destinadas a promovê-la, culminaram nos movimentos religiosos que a história chamaria de Reforma.

Além dessa insatisfação, um outro fator contribuinte para a Reforma foi o Grande Cisma que vivia a Igreja. Desde 1309, o papado havia sido estabelecido em Avignon, atual França, na época sob a regência dos reis da Sicília. Sete papas regeram ali, todos franceses, e o sétimo, Gregório XI, em 1377 retornou o papado para Roma. Quando de sua morte em 1378, o povo forçou os cardeais a escolherem um papa italiano. A escolha de Urbano VI, feita sob pressão, logo causou arrependimento nos cardeais, que então se reuniram fora de Roma e elegeram um outro papa, Clemente VII, estabelecendo-se em Avignon. Os dois tinham amplo apoio de suas respectivas populações. Assim, por um longo período a Igreja tinha dois papas, (chegou a ter três) todos reivindicando a supremacia. A infalibilidade papal passou a ser questionada por intelectuais e pelo povo. Em 1417, no Concílio de Constância, convocado pelo rei Sigismundo, Martinho V foi eleito papa único da Igreja Ocidental, terminando tecnicamente com o cisma. Até 1429, porém os cardeais de Avignon não deram apoio ao papa romano.

Os efeitos do Grande Cisma foram profundos. Foi no Concílio de Constância que John Hus foi condenado à fogueira, o que apenas serviu para fortalecer o movimento hussita. Wycliffe escrevera várias vezes condenando o Cisma, em especial num tratado chamado “Contra a Guerra do Clero”. O Concílio de Constância decretou que seu túmulo fosse violado, seus restos exumados e queimados, e lançados no rio Swift.

Wycliffe havia realizado a primeira tradução da Bíblia do latim para o inglês, dando início a várias iniciativas similares de disponibilizar a Bíblia no vernáculo. Porém o uso da Bíblia tornou-se ponto focal da perseguição. Uma lei anterior, promulgada pelo Concílio de Tolosa, em 1229, proibira aos leigos a posse de qualquer exemplar das Escrituras no vernáculo. Em 1408, uma Convenção de Cantuária decretou que não se devia traduzir nenhuma parte da Bíblia, e que ninguém devia ler “nenhum livro, panfleto ou tratado assim, agora, ultimamente, redigidos no tempo de João Wycliffe ou desde então... publicamente ou em particular, sob pena de excomunhão maior”. Isto foi reforçado em 1414 por uma lei que punia os que lessem as Escrituras em inglês. Eles perderiam sua terra, seu gado, seus bens e a vida.  Germaine Greer explica:

Esta nova insistência no sacramento da palavra deixa entrever uma verdadeira carência do clero no domínio da pastoral. Com efeito, a principal fraqueza da Igreja no período que antecedeu a Reforma não estava nos abusos financeiros da cúria romana nem no estilo de vida, por vezes escandaloso, dos altos dignitários eclesiásticos, nem dos desregramentos de certos monges, nem no número, seguramente grande, de padres concubinários. Residia, sim, na muito deficiente instrução religiosa e na insuficiente formação de pastores de almas, que frequentemente eram incapazes de ministrar eficazmente os sacramentos e de apresentar de modo válido a mensagem evangélica. A Reforma nasceu, provavelmente, deste profundo desnível entre a mediocridade da oferta e a veemência da procura. É evidente que o esforço de pregação realizado no século XV ficou aquém das necessidades. [2]

A Igreja do ocidente mostrava mais empenho em enriquecer materialmente que em orientar espiritualmente os fiéis. O relaxamento moral do baixo clero, junto com a secularização imposta pelo Humanismo, criou condições para o questionamento do papel da Igreja. O sentimento nacionalista se fortalecia junto com a identidade cultural resultando da valorização das línguas vernáculas. O Latim perdia sua influência. Por meio de livros e panfletos, os debates se ampliavam na proporção de sua produção, multiplicada pela invenção da prensa. Aumentavam as traduções da Bíblia para o vernáculo.

Um dos teólogos chocados com a frivolidade do clero era o frade Martinho Lutero. Discordava fortemente, entre outras coisas, da venda de indulgências, muito praticada na época pela Igreja para levantar fundos para a construção da Basílica de São Pedro.  Como reação ao que considerava um desvio dos preceitos cristãos, traduziu a Bíblia para o alemão e produziu vários escritos panfletários divulgando suas ideias reformistas. Rompeu definitivamente com a hierarquia católica quando, em 31 de outubro de 1517, afixou na porta da igreja do castelo de Wittenberg suas 95 teses contra práticas eclesiásticas.

Ajudado pela imprensa, suas ideias ganharam popularidade. Foi excomungado pelo papa em 1521, e, nesse mesmo ano, foi julgado pelo imperador do Santo Império Romano, Carlos V, um católico fanático. Como não se retratou conforme ordenado foi declarado fora-da-lei. Escapou de provável morte por ter sido acolhido pelo governante de Wittenberg, que o refugiou em seu castelo. Nesse refúgio Lutero traduziu as Escrituras Gregas para o Alemão, a partir de um texto de Erasmo.

Embora bastante emblemático, o gesto de Lutero não deve ser superestimado. A estrutura econômica alemã fornecia um campo fértil para a deflagração da Reforma. As classes dominantes haviam sido diretamente atingidas pela crise econômica em que a Alemanha estava mergulhada, e almejava confiscar as propriedades da Igreja. A burguesia, formada pela classe média de comerciantes de manufatureiros, protestava contra o envio de recursos para a Itália, estagnando seus negócios. A plebe urbana ansiava por se ver livre do fardo dos dízimos e prestações eclesiásticas.  Neste conflito, de um lado a nobreza, a burguesia e a plebe, e do outro, o imperador, o papa e o clero, Lutero foi a centelha para uma Reforma cujos limites já haviam sido desenhados pelo contexto histórico. Conforme escreveu W. L. MacElwee, “[o] efeito na Germânia foi instantâneo. Cada classe sentiu que ali estava, afinal, um homem que tinha coragem de protestar contra todas as coisas que havia tanto tempo detestavam”. [3]

Se é verdade que as condições estavam criadas para a deflagração da Reforma, não é exagero afirmar que a imprensa a possibilitou. Briggs afirma que a Reforma “foi o primeiro e principal conflito ideológico no qual a matéria impressa teve papel preponderante” [4]. O próprio Lutero descreveu a imprensa como o “último dom de Deus, e o maior. Efetivamente, por meio dela Deus quer dar a conhecer a causa da verdadeira religião a toda a terra, até os confins do mundo.” [5] A evidência de que Lutero realmente disse essas palavras pode ser frágil, mas, é correto afirmar que, não fosse a imprensa, provavelmente ele teria tido o mesmo destino de John Hus, cujas ideias eram parecidas com a dele.

Pelas décadas de 1520 a 1540, o livro já não guardava associações com o manuscrito, nem na forma, nem no conteúdo, agora com uma ampla abertura para autores modernos. Além da grande presença de oficinas de impressão nos maiores centros europeus, uma ampla rede de difusão garantia a distribuição do material impresso. As bibliotecas aumentam, os livros caem de preço, a ponto de não serem mais citados nos inventários de falecimento. Vários estudiosos compartilham a ideia de produzir a Bíblia nos idiomas locais. Em 1532, Antonio Bruciola produziu a versão para o italiano. Lutero concluiu sua tradução para o Alemão em 1534. Pierre-Robert Olivétan traduziu a partir dos originais para o francês em 1535. Também em 1535, Miles Coverdale concluiu a tradução iniciada por William Tyndale, seu professor.  Francisco de Enzimas tentou em vão conseguir permissão real para distribuir sua tradução para o espanhol, em 1544. Alguns exemplares chegaram lá clandestinamente.

Essas são apenas algumas das versões atribuídas ao movimento de reforma. Muitas foram reeditadas – a tradução de Lutero, por exemplo, chegou a mais de 400 reedições. Em 1522 apenas as Escrituras Gregas estavam traduzidas, e foram publicadas anonimamente (tendo ficado conhecida como Bíblia de Setembro). Ainda que tivesse um custo equivalente a seis meses de trabalho comum, apenas nos 12 primeiros meses, 6000 exemplares foram impressos, em duas edições.  Um único impressor em Wittenberg, Hans Lufft, vendeu nada menos que cem mil cópias em 40 anos, de 1534 a 1574. A longo prazo, a tradução do Gutenberg foi fundamental para a padronização e consolidação da língua escrita alemã. Esse efeito foi similar nas línguas em que outras traduções da Bíblia foram produzidas. [6]

Além da leitura da Bíblia, a leitura de panfletos foi decisiva na mobilização da opinião pública. Gilmont assinala que a ampla utilização da mídia impressa feita pelos reformistas constitui a “primeira utilização que se faz da imprensa para alertar a opinião pública”. Um conjunto de anotações feitas com base nas conversas domésticas com Lutero foi compilado e composto como um volume chamado Conversa à Mesa de Lutero (Luthers Tischreden). Durante algum tempo, sua tiragem em língua alemã era superior apenas à Bíblia.  

Além da utilização ostensiva de material impresso, novas concepções religiosas introduziram-se discretamente em publicações supostamente tradicionais. Um livro de devoção, por exemplo, substituiu a frase “em Ti somente, depositamos nossa confiança”, por “em Ti, depositamos nossa confiança”.

O trabalho de impressão em Wittenberg, em cuja universidade Lutero era professor, era intenso. A cidade que, em 1571, era um pequeno núcleo provinciano universitário, com uma única tipografia, em alguns anos torna-se um dos sete primeiros centros de impressão alemães, com a maior parte da produção ligada à Reforma. No ano de 1532, dos 498 títulos publicados, 418 tratavam da Reforma. Atividade semelhante se verificava em Genebra, Suíça, onde João Calvino, outro reformador expoente, estabeleceu sua sede. Os arquivos da cidade registram que de 1550 a 1562, imprimir livros em Genebra era uma fonte de ganhos abundantes. De fato, o movimento reformista e a indústria livreira viveram décadas de mútuos benefícios. No século XVI, o acesso à imprensa é defendido e desejado por todos os grupos dissidentes – todas consideram indispensáveis as impressoras para a fixação de sua identidade.

A própria Igreja vê na imprensa uma necessidade: a liturgia, as obras catequéticas e espirituais, a propaganda e a contrapropaganda em face das demais profissões de fé dependem dela. Essa necessidade em ambos os lados expôs o comportamento de alguns editores. Conforme explica Burke, alguns eram “mercenários interessados apenas nas vendas” e serviam a ambos os lados, dependendo da procura. Outros se mantinham comprometidos a um dos lados.

Dando-se conta, porém, do poder da impressa em mãos reformistas (ou heréticas, como preferia), depois do início da Reforma Protestante, o clero de diversos países europeus fez o máximo para coibir a circulação dos chamados livros hereges. O protestante inglês John Foxe [7] pregava que “o papa deve abolir o conhecimento e a impressão gráfica, ou esta, a longo prazo, vai acabar com ele”. [8] É significativa a associação entre “conhecimento” e “impressão”, talvez uma das primeiras nesse sentido.

Uma grande mudança ocorreu após o Concílio de Trento, em 1546, quando se discutiu a questão das traduções para o vernáculo. Surgiram duas opiniões conflitantes. Os defensores da proibição alegavam que a Bíblia na língua comum era “a mãe e a origem de todas as heresias”. Os contrários à proibição diziam que seus “adversários”, os protestantes, argumentariam que a Igreja proibira a Bíblia na língua comum para esconder “fraudes e falsidades”. Por falta de consenso, o Concílio não se definiu quanto ao assunto e limitou-se a sancionar a autenticidade da Vulgata, que se tornou o texto-padrão para a Igreja Católica. No entanto, Carlo Buzzetti, professor da Pontifícia Universidade Salesiana, em Roma, salientou que classificar de “autêntica” a Vulgata “favoreceu a ideia de que, na prática, era a única Bíblia legítima”. Acontecimentos posteriores confirmaram isso. Em 1559, o Papa Paulo IV publicou o primeiro índex de livros proibidos (Index Librorum Prohibitorum) [9], um catálogo de obras que os católicos eram proibidos de ler, vender, traduzir ou possuir. Em Florença, o índex foi fixado nas portas das igrejas da cidade. Os livros listados eram considerados prejudiciais e perigosos à fé e à integridade moral. O índex proibiu a leitura das traduções da Bíblia no vernáculo, incluindo a de Brucioli. Os que não obedeciam eram excomungados. [10]

Um curioso exemplo desse temor pelos livros hereges é um decreto datado de 1565, da cidade de Laon, França, exigindo que os moradores tampem todas as aberturas das casas que dão para a rua, para impedir as pessoas de Genebra de jogarem livretos nos porões durante a noite. A medida acabou suscitando a curiosidade dos habitantes para os livretos, o que resultou em considerável número de conversões para a nova religião.

O index de 1596 era ainda mais restritivo. Não se concedia mais autorização para traduzir ou imprimir a Bíblia no vernáculo. Os que trabalhassem com essa finalidade seriam considerados hereges, e estariam sujeitos às sanções da Inquisição. Quanto às Bíblias, deviam ser destruídas. Com isso, as queimas de Bíblias nos pátios de igrejas se multiplicaram depois do fim do século 16.

Apesar desse foco no material impresso, atribuir somente a ele o vetor de propulsão da Reforma não seria uma análise completa, a iniciar pelo simples fato de que o analfabetismo era grande na Europa. As estimativas variam muito entre os pesquisadores. Gilmont cita algumas delas: na Alemanha, 3 a 4% da população em geral era alfabetizada, subindo para 10 a 30% nas cidades; na Inglaterra, 10% de alfabetizados entre os homens e 1% entre as mulheres; em Veneza, 26% dos meninos e 1% das meninas frequentavam a escola. Como, em geral, os que assinavam o nome eram considerados alfabetizados, o números de leitores com capacidade crítica era reduzido.

Lutero sabia bem disso, e não desprezou outros meios de comunicação. Ao contrário, valorizou o canto, que veio a ter uma importância fundamental na igreja Luterana. O hino “Uma poderosa fortaleza é o nosso senhor” (Ein Fest Burg ist Unser Goot), entoada até hoje, é considerada como “a Marselhesa da Reforma” [11].  Lutero deu também muita importância à palavra oral, aos sermões, e à pregação, a exemplo dos Lolardos, seguidores de Wycliffe, que dedicavam sua vida a ensinar o Evangelho. Fez também amplo uso de imagens, algumas bastante ácidas contra o clero, como meio de atingir aos que ele chamava de “povo simples”. Não menos importantes eram as leituras e os debates públicos, muitas vezes nas tabernas, provocados pelos panfletos. Assim, ainda que não seja correto tomar a palavra escrita e sua leitura como o mecanismo único promotor da Reforma, sem dúvida ela permeou amplamente seu crescimento. O fato de haver poucos alfabetizados, e ainda assim o impacto do texto escrito ter sido tão importante, testemunha a favor do poder da leitura.

Este poder, inicialmente vital para os interesses de homens como Lutero, não lhe passou despercebido. É certo que a ideia de todos terem acesso à Bíblia e à leitura era muito atraente ao povo e à população, mas essa mesma leitura poderia servir a que suas próprias propostas fossem questionadas. O próprio Lutero, sob o efeito da proliferação de interpretações heterodoxas da Escritura, muda seu discurso. Em 1524, por exemplo, ao convidar os magistrados a constituir boas bibliotecas, os instrui a conservar os livros e permitir que os dirigentes espirituais estudem, mas que não seja usada para a leitura popular. Igualmente, em 1529, pouco depois de ter redigido seus dois catecismos, afirmar que “o catecismo é a Bíblia do leigo; contém tudo aquilo que cada cristão deve conhecer da doutrina cristã”. Em um sermão, em 1534, ele diz que “o Reino de Cristo está fundamentado na palavra que não se pode captar nem compreender sem os dois órgãos, o ouvido e a língua” [12]. Ao observar a enorme multiplicação dos livros, ele diz que “para mim, seria preferível aumentar o número de livros vivos, isto é, o número de pregadores” [13].

Lutero não foi o único responsável pelo sucesso da revolução protestante. Outros grupos que desenvolveram suas próprias interpretações tomavam progressivamente volume e presença nos acontecimentos. É interessante que de modo muito similar, vários deles, com o tempo, passaram a ter uma atitude de mais cautela quanto ao encorajamento à prática da leitura.

A Guerra dos Camponeses (1524 – 1525), por exemplo, foi iniciada com uma tentativa pacífica dos rebeldes de obter um alívio da opressão de seus senhores. Em sua maioria, os revoltosos eram membros de uma seita conhecida como “anabatistas”. Porém, Thomas Münzer, um fanático religioso, que se proclamava um messias, conseguiu exercer seu domínio sobre os revoltosos, e a Guerra acabou se tornando um dos mais sangrentos combates, que acabou se espalhando por toda a Alemanha. Burns cita que, surpreendentemente, o próprio Lutero apoiou as ações contra os anabatistas. [14] Münzer sofreu uma morte sangrenta, e uma parte dos anabatistas passaram a apoiar Menno Simons (1492 – 1559), dando origem aos Menonitas, ao passo que outros fugiram para a Inglaterra, estabelecendo a comunidade dos Quakers. Münzer, que, como reformista, valorizava o acesso ao texto bíblico, estava ciente que vivia numa sociedade pouco capacitada para a leitura individual. Assim, se em seu Sermão aos príncipes, de 1524, ele fazia votos de que “os servidores de Deus espalhem a Bíblia pelo canto, pela leitura e pela prédica”, mais adiante ele substituiu o discurso bíblico por sua própria pregação.

Na Suíça, Ulrich Zwingli (1484 – 1531) iniciou seu movimento de reforma. Afirmava ser independente de Lutero, tendo alguns pontos doutrinários em comum, e outros divergentes. Seu movimento, partilhado por interesses políticos, cresceu a ponto de envolver várias cidades e um conflito civil entre suíços protestantes e católicos romanos. Zwingli foi morto em combate. Com o fim deste, concedeu-se a cada distrito o direito de decidir sua própria forma de religião. A julgar por seus comentários, Zwingli manteve-se apegado aos ideais de liberdade da leitura da Bíblia para todos. Conforme ele escreveu, “[a]pós termos tomado, nós também, a Escritura em nossas mãos (...) ficamos mais bem instruídos e descobrimos os enormes e vergonhosos erros dos padres”. A partir de 1525 ele reserva a interpretação da Bíblia a um grupo composto pela elite política e clerical. Philipp Melanchthon (1497-1560), companheiro de Lutero, que no início defendia a leitura incondicional da Bíblia por todos, mais adiante insiste que os ministros sejam “preparados nas escolas.”, e que esses é que seriam os guardiões “dos dogmas autênticos da Igreja”.

Calvino chega a fazer uma analogia para argumentar que a Bíblia não é diretamente acessível a todos. “É um pão de casca grossa, explica ele num sermão. Para alimentar os seus, Deus quer que o pão nos seja cortado, que os pedaços nos sejam colocados na boca e que alguém os mastigue para nós”. Assim, nesse contexto de surgimento de vários grupos religiosos, com conceitos conflitantes sobre disponibilizar ou não o texto bíblico e controlar ou não o material a ser lido, Gilmont faz a seguinte análise das práticas de leitura:

Os posicionamentos a favor ou contra a leitura da Bíblia nos fazem voltar a um debate fundamental. O cristianismo define-se como religião da Palavra – “logos” – e a religião do Livro – “biblo” –, recorrendo a dois meios de comunicação aparentemente contraditórios. É verdade que, na origem do cristianismo, colocar por escrito a mensagem divina não reflete absolutamente a solutamente a vontade de instaurar dois tipos de comunicação paralelos. A religião cristã pretende ser efetivamente presença viva e espontânea da palavra. O livro existe apenas para assegurar a perenidade da mensagem, oferecendo à palavra a garantia de uma memória fiel. A partir do momento em que a prática da leitura se generaliza, a relação com o texto evolui. O escrito torna-se meio de comunicação direta. Duas posições contraditórias confrontam-se desde então. De um lado, há a convicção de que o ensino do Cristo é simples e se dirige a todos. De outro, o temor da heresia instaura a preocupação de exercer um controle através da pregação. É um debate fundamental entre a Bíblia do ouvido e a Bíblia do olhar, entre Igreja do oral e a Igreja do impresso. Às vésperas da Reforma, o debate estava amplamente iniciado. Lutero e Zwingli deram-lhe novo impulso, mas a promoção da leitura individual foi logo refreada. [15]

Portanto, é possível concluir que um conjunto de práticas de leitura era adotado: a leitura comum nas igrejas, onde todos ouviam ou seguiam em seus próprios livretes o canto compartilhado; a leitura pública, em benefício dos analfabetos, a leitura coletiva restrita a círculos menores, para discussões e tomadas de decisão, além da leitura pessoal e silenciosa, para estudo e meditação. Essas possibilidades são endossadas pelos vários formatos disponíveis, dos grandes in-folios, adequados para as bibliotecas e salas de leitura, aos formatos quarto, oitavo e até dezesseis, para a facilidade do transporte. Os panfletos e cartazes devem ser acrescentados. A rapidez com que podiam ser publicados e distribuídos é responsável em grande parte pela idealização da imprensa como fornecedora de notícias atuais, formalizada nos jornais.  “A história do livro vê, com efeito, seu centro de interesse deslocar-se do texto para o leitor”, pondera Gilmont.

Esse deslocamento apresenta um grande desafio. Com todo esforço que o autor do texto fizer, aliado ao cuidado do editor, será o leitor, em última análise, o responsável pela assimilação de seu conteúdo. O leitor, na medida em que não for passivo diante do texto, ficará livre para aceitar ou não os valores e ideias propostas. Uma evidência de que esse fato passava a ser constatado, são as inúmeras manipulações que podem ser encontradas nos textos do século XVI, como reproduções parciais e descontextualizadas, ou até alteradas. Um exemplo curioso refere-se ao dominicano Silvestro Mazzolini, que, ao escrever uma refutação às 95 teses de Lutero, agradou àqueles que queriam conhecê-las na Itália, aonde elas não haviam chegado. As autoridades romanas, apercebidas dos efeitos, proibiram as citações de obras heréticas, mesmo que fosse para refutá-las. [16]

Assim, o movimento de Reforma, ainda que no final do século XVI tenha retomado posições restritivas, semelhantes às da Igreja que ele se propunha combater, deixou efeitos importantes nas práticas de leitura. A estimulação à apropriação do texto bíblico, pelo ouvido ou pela visão, o manuseio e acesso mais frequente ao texto escrito, o encorajamento à memorização de textos, o uso de hinários, todas essas novas práticas introduziram alterações duradouras na prática da leitura.

A Reforma Protestante não foi a única. Dentro da Igreja Católica, mesmo antes da eclosão da Reforma Protestante, já podiam ser identificas ações no sentido de alterar atitudes da Igreja que já se tornavam insustentáveis. O Cardeal Francisco Ximenes de Cisneros (1436 – 1517) acionou na Espanha um movimento que eliminou abusos de mosteiros e padres e fundou escolas, regenerando consideravelmente a vida espiritual da nação. Na Itália, algumas ordens religiosas foram fundadas sobre princípios que buscavam resgatar os valores cristãos, como os teatinos e capuchinos, a primeira uma organização monástica que se sujeitavam a votos de pobreza, castidade e obediência, e a segunda, uma irmandade de frades seguidores de Francisco de Assis (1181 – 1226).

Entretanto, foi a Reforma Protestante que atiçou as chamas da Reforma Católica, por isso também chamada de Contrarreforma.  A partir do papa Paulo III, em 1534, e pelos seus sucedâneos, várias medidas foram tomadas para frear o movimento Protestante, que estava custando enorme perda de fiéis e terras para a Igreja. As finanças foram reorganizadas, e vários clérigos ociosos substituídos por outros mais austeros. O Concílio de Trento, que se estendeu de 1545 a 1563, reafirmou os dogmas católicos e a infalibilidade do papa. Atribuiu às tradições igual valor que à Bíblia e proibiu a venda de indulgências. Três medidas foram fundamentais: o restabelecimento da Inquisição, a publicação do Index dos Livros Proibidos e a criação da Companhia de Jesus, por Inácio de Loyola.

A Companhia de Jesus foi muito importante para os resultados da Reforma Católica. Fundada com fortes princípios de obediência semelhante aos moldes militares, visava divulgar o catolicismo através da educação. A leitura exerceu um papel importante para a fundação dessa ordem. Inácio de Loyla era um fidalgo espanhol, com uma vida de aventuras amorosas e pilhagens. Foi ferido numa batalha, e, enquanto convalescia, leu um tratado sobre a vida de Jesus e histórias de santos. Conforme Burns, essas leituras “operaram profunda transformação na sua natureza emotiva”. Oprimido pelo remorso, foi para a Universidade de Paris para estudar a fé católica, onde posteriormente, junto com outros apoiadores, fundou a ordem dos jesuítas, “um regimento de soldados que havia jurado defender a fé”. Sua principal arma: a educação. Em suas missões, buscaram aprender o máximo das culturas locais, elaborando gramáticas e dicionários das línguas locais, e também fundaram escolas para as massas, nas quais todos eram recebidos e podiam aprender a ler a Bíblia e obras teológicas. [17]

Durante a Contrarreforma, apesar da visão inicialmente bastante reservada quanto à leitura solitária, é possível constatar uma progressiva utilização do texto impresso pela Igreja. Muitas decisões da Igreja implicitamente demandaram maior produção de livros. Os padres deveriam desempenhar um papel pedagógico na catequese, o que exigiu a produção de textos oficiais. A Vulgata Latina foi revista atentamente pelo próprio papa e publicada em 1592. A demanda de missais e breviários levou o papa Pio IV, em 1561, a estabelecer a Stamperia del Popolo Romano, com a finalidade de assegurar a uniformidade do material impresso. Os impressores que obtivessem as autorizações necessárias estariam em evidente vantagem comercial. O exemplo mais significativo é o de Christophe Plantin (1520 – 1589).

Plantin é um exemplo que ilustra bem a independência do mercado de produção de livros em relação a ideais religiosos ou filosóficos: pode servir a quaisquer lados deles. Plantin entrou no mercado livreiro financiado por um líder anabatista, esteve sob suspeita de imprimir livros heréticos e fez sociedade com comerciantes calvinistas. Em 1567, enquanto estava nos Países-Baixos, obteve apoio do rei da Espanha Filipe II, que desejava reprimir os protestantes, para um grande projeto editorial, a saber, produzir uma nova segunda edição da Poliglota Complutense (ou Poliglota de Alcalá), uma tradução multilingue de 1517. Para isso, contou com o apoio do humanista erudito Arias Montano. A nova versão, ilustrada na figura 27, ficou conhecida como Poliglota de Antuérpia, ou Bíbia Real, e continha, além do texto da Vulgata, o texto hebraico, a Septuaginta grega, a Pesito siríaca [18], um Targum Aramaico[19] e suas traduções para o latim. A paginação do trabalho é tão complexa, que até hoje, com todos os recursos computacionais, seria difícil de ser igualada. [20]

Figura 27 – Poliglota de Antuérpia, produzida por Christophe Plantin. [21]

Além do trabalho de vários eruditos, foram necessários sessenta tipógrafos, e quatro anos de trabalho, para a produção da obra, que terminou em 1573. Para a época, foi um tempo recorde. Foram produzidos 1213 conjuntos de oito volumes. Apesar de todos os cuidados de Plantin, a obra não pode ser vendida imediatamente. Léon de Castro, professor de Salamanca, denunciou Montanus à Inquisição, e seguiu-se uma série de debates sobre a tradução, que concluíram em 1580, quando a Poliglota recebeu a autorização da Igreja para ser vendida. A Poliglota de Antuérpia é considerada por alguns como o mais importante feito tipográfico realizado por um impressor autônomo no século XVI. Plantin foi um dos maiores impressores de sua época, chegando a ter 160 empregados e vinte e duas prensas, quando a média era de duas ou três prensas. Sua produção de missas e textos litúrgicos chegaram a somar, num período de trinta e quatro anos, 1863 títulos, o que representa uma média de 55 títulos por ano – bastante alto, mesmo para hoje.

As traduções da Bíblia no vernáculo, entretanto, continuavam proscritas pela Igreja. Apenas em 1757 é que o papa Benedito XIV autorizou o uso das versões da Bíblia para os idiomas locais, sendo a versão em italiano produzida em 1778, em português em 1790 e em espanhol em 1791. [22]

Que dizer, porém, das leituras ditas “profanas”? O que se pode dizer sobre as práticas de leituras não religiosas?  A obra magistral de Miguel de Cervantes y Saavedra (1547 – 1616) O Engenhoso Fidalgo Dom Quixote de la Mancha, publicada em dois volumes, em 1605 e 1615, respectivamente, contém abundantes elementos para respondem a essas perguntas. Sua própria estrutura, com capítulos pequenos e títulos bastante explicativos, prestava-se muito bem à leitura em voz alta, para um grupo de pessoas. Seu autor contemplava tanto sua leitura pública como particular. De fato, logo no prólogo ele se dirige ao “[d]esocupado leitor” do início do século XVII. E, ainda no tema da leitura, esclarece que o protagonista, Dom Quixote, “de tanto naquelas leituras [de livros de cavalaria] se enfrascou, que passava as noites de claro em claro, e os dias de escuro em escuro, e assim, do pouco dormir e do muito ler, se lhe secou o cérebro, de maneira que chegou a perder o juízo” [23].

No decorrer do livro, são feitas várias referências à prática da leitura. No capítulo XXXII do primeiro volume, por exemplo, Cervantes nos conta que num albergue onde se instalara Dom Quixote, diz o vendeiro sobre alguns livros de cavalaria seus, ao saber que livros assim haviam enlouquecido seu hóspede:

Não sei como tal pudesse acontecer; em verdade que, segundo eu entendo, leitura melhor não a pode haver no mundo. Para aí tenho eu dois ou três livros desses com outros papéis, que me tem regalado a vida; não só a mim como a outros muitos. Quando é pelas aceifas [24], recolhem-se aqui nas sestas muitos segadores, e sempre entre eles há algum que saiba ler; agarra-se num destes livros, pomo-nos à roda dele mais de trinta, e ouvimo-lo com tamanho gosto, que é como lançarmos um milheiro de cãs afora [25]. De mim ao menos sei eu dizer que, em ouvindo contar aqueles furibundos golpes, descarregados pelos cavaleiros, dão-me zinas de fazer como eles. Não queria senão estar a ouvir aquilo a fio noites e dias. [26]

O testemunho do vendeiro é muito revelador, e corrobora muito do que se pode concluir a respeito das práticas de leitura nos séculos XVII e XVIII, conforme explica Chartier. Inicialmente, baseado nos registros dos interrogatórios da Inquisição, os gêneros mais lidos por todos eram três: livros de devoção, vidas de santos e, conforme ilustrado acima, romances de cavalaria. A leitura era feita por uma variedade de classes. No relato, os livros haviam sido esquecidos por um algum viajante, mas eram lidos por comerciantes e campesinos. Assim, embora a taxa de alfabetização não fosse grande, e os inventários da época indiquem que uma minoria possuísse livros (cerca de um terço em Valência entre 1474 e 1150, chegando à metade dos inventários, em Canterbury, de 1620 a 1640), os livros circulavam por outros meios. Eram lidos livros alheios, emprestados, em outras casas, e também, lidos em voz alta, como no relato acima, onde, “mais de trinta” de várias formações, todas simples, compartilhavam da leitura. [27]

Ainda em Dom Quixote, no volume dois, encontramos o interessante episódio em que ele visita uma tipografia. As várias atividades dos tipógrafos são muito bem descritas, testemunhando o fato de que por essa época já se tratava de uma atividade bastante comum, e algumas discussões sobre os possíveis ganhos do impressor são travadas. O relato termina com Dom Quixote vendo o livro que narra suas próprias aventuras sendo impresso. Talvez seja essa a primeira vez que um autor trate a impressão de seu livro como um assunto do próprio livro.

Tanto esse consumo de literatura popular obrigou os livreiros a encontrarem estratégias adequadas para a demanda, como a adoção dessas estratégias contribuiu para o aumento do consumo. Tecnicamente, não era um desafio fácil, tornando necessárias uma produção e distribuição de baixo custo e de amplo alcance. Uma dessas estratégias, de Londres na década de 1620, foi o penny chapbook trade, pequenos livros com preço variando de 2 a 6 pence, dependendo do número de cadernos. Em 1664, um livreiro londrino, Charles Tias, relata ter um estoque perto de cem mil exemplares, ou seja, um para cada quinze famílias inglesas. Na Espanha do século XVIII, pequenos livretos chamados pliegos de cordel, tem um enorme consumo popular. Os pequenos livretos de uma ou duas folhas têm sua venda em grande parte realizada por ambulantes cegos, que cantam seus textos antes de vendê-los. Foram largamente usados como leitura de distração, trabalho, festas e até para alfabetização.

Uma iniciativa semelhante na França adquiriu um enorme significado no mundo da leitura: a Biblioteca Azul, edições de baixo custo assim chamada pelo fato dos livros serem encadernados com um áspero papel azul, usado para embrulhar açúcar. Graças ao trabalho dos mascates, atingiu uma enorme distribuição. Conforme as pesquisas de Chartier, embora a princípio a Biblioteca Azul tenha sido tratada como fundamentalmente de conteúdo popular, seu conteúdo religioso era predominante. Um inventário do estoque do livreiro Étienne Garnier, de 1789, mostra que 42,7% dos livros eram religiosos, comparados com 28,8% de ficção. Assim, a Biblioteca Azul foi também um auxiliar poderoso na Contrarreforma. Por esta época, a distribuição dos livros azuis era bastante ruralizada, e sua foi usada para muitas formas de leitura. Jamerey-Duval, que aprendeu a ler com os livros azuis, em seu livro de memórias fala de um romance “que os habitantes do campo o sabiam de cor e o punham nas mãos de seus filhos para aprender a ler”. O início da Revolução Francesa em 1789 ainda vai encontrar a Biblioteca Azul amplamente difundida. [28]

Enfim, conforme conclui Julia, “o crescimento da leitura tornou de fato superadas as tentativas de controle” [29]. Numa perspectiva ampla, a Reforma e a Contrarreforma tiveram algumas consequências similares. A Reforma não estabeleceu um regime de tolerância e liberdade religiosas. Vários de seus defensores chegaram a adotar práticas restritivas similares às adotadas pela Igreja, como Calvino que, paradoxalmente, colaborou com a Inquisição para a execução na fogueira do médico e teólogo Miguel Servet (1511 – 1553), porque não concordaram sobre a Trindade. Em 1552, mesmo na ausência de Servet, ele foi condenado, seus livros queimados, e em 1153 foi queimado, com seus livros amarrados a ele. Lutero, durante a Revolta dos Camponeses, escreveu um panfleto intitulado Contra as Hordas Ladras e Assassinas dos Camponeses, onde ele incita a “ferir, estrangular e apunhalar, secreta ou publicamente, e fazê-los lembrar que não nada mais virulento, daninho e diabólico do que um homem revoltado” [30]. Por outro lado, os dois movimentos usaram de algum modo a educação e a leitura em seu benefício. Estudos práticos foram introduzidos, substituindo o grego e o latim, supervalorizados pelos escolásticos, e a indústria livreira atingiu total independência.

A análise das práticas de leitura até esse ponto demonstra que não há propriamente uma prática única predominante em cada momento analisado. Usando a expressão de Gilmont, verifica-se uma crescente sobreposição e coexistência das práticas de leitura, onde uma geração utiliza muitas das formas de seus ancestrais, e acrescenta suas próprias. Assim, ao lado da leitura pública, que continua a ser praticada, somam-se a leitura em grupo, familiar, litúrgica ou reacionária; a leitura silenciosa, espiritual ou de lazer; a leitura para informação. Embora haja um crescimento da consciência do poder do ato de ler e seus efeitos, poder esse usado de muitos modos, em vários momentos históricos, esse crescimento não é constante, e nem uniformemente distribuído histórica, geográfica ou socialmente. Conforme pondera Burke, “a história... pode ser descrita com um ziguezague que se move entre regiões, e mostra momentos particulares nos quais o acesso à informação tornou-se menor, e não mais amplo. [31]


[1] FOXE, John. Actes and Monuments. Londres, 1563, p. 514. Apud Estudo Perspicaz das Escrituras. Vol. 3, p. 364.

[2] GREER, Germaine. Sheakespeare. Apud GONTIJO, Silvana, p. 175.

[3] MACELWEE, W.L. Apud MELLO, Leonel Itaussu Almeida. História Geral, p. 75.

[4] BRIGGS, Asa; BURKE, Peter. Op. cit., p. 83.

[5] EISEINSTEIN, Elisabeth L. Op. cit., p. 169.

[6] BRIGGS, Asa; BURKE, Peter. Op. cit., p. 85.

[7] John Foxe (1516 – 1587), autor do Livro dos Mártires, que influenciou por muitos séculos a consciência religiosa na Inglaterra e continha uma severa crítica ao catolicismo.

[8] BRIGGS, Asa; BURKE, Peter. Op. cit., p. 84.

[9] O Index foi revisado pela última vez em 1948, e teve sua última impressão em 1966. MANGUEL, Alberto. Uma História da Leitura, p. 320.

[10] Watchtower Library. w2005 15/12. A Bíblia em Italiano: uma história conturbada. 2006 CD-ROM.

[11] GONTIJO, Silvana Gontijo. Op. cit., p. 189.

[12] LUTHER, M. Werke. kritische gesamtausgabe, p. 512. ISBN 3740008687. Apud GILMONT, Jean-François. Op. cit., p. 54.

[13] GILMONT, Jean-François. Op. cit., p. 58.

[14] BURNS, Edward McNall. História da Civilização Ocidental. Vol. 1, p. 468.

[15] GILMONT, Jean-François. Op. cit., p. 57.

[16] GILMONT, Jean-François. Op. cit., p. 67.

[17] BURNS, Edward M. Op. cit., p. 482.

[18] A Pesito, que data do século V, é uma tradução em siríaco importante por ter sido feita diretamente de manuscritos hebraicos do século II.

[19] Paráfrase do texto hebraico, do século V, muito usados pelos tradutores em passagens mais difíceis.

[20] HEITLINGER, Paulo. Christophe Plantin (1520-1589).

[21] Fonte: HEITLINGER, Paulo. Cristophe Plantin (1520 – 1589).

[22] JULIA, Dominique. Op. cit., p. 86 a 89.

[23] CERVANTES, Miguel de. O Engenhoso Fidalgo Dom Quixote de La Mancha, p. 32.

[24] Colheita.

[25] Causa de muita satisfação.

[26] CERVANTES, Miguel de. O Engenhoso Fidalgo Dom Quixote de La Mancha, p. 210.

[27] CHARTIER, Roger.  Leituras e Leitores na França do Antigo Regime, p. 120.

[28] CHARTIER, Roger. Leituras e Leitores na França do Antigo Regime, p. 264.

[29] JULIA, Dominique. Op. cit., p. 89.

[30] LUCAS, Henry Stefen. The renaissance and the reformation, p. 457. Apud BURNS, 468.

[31] BRIGGS, Asa; BURKE, Peter. Op. cit., p. 82.

© Marco Antonio Simoes 2022